Hugo Soares

Qual o poder de escolha de um consumidor na periferia do capitalismo?

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Durante muitos e muitos e muitos anos fomos amaldiçoados com esta resolução horrível na tela dos computadores, aliado à cores lavadas e um campo de visão sofrível. Enquanto Full HD já era padrão de mercado e estava presente nos notebooks de entrada vendidos nos Estados Unidos, Europa e Japão o Brasil sofreu com telas de baixa qualidade. Com muita sorte o seu modelo poderia ter uma opção de tela melhor, mas você teria que pagar muito mais para isso. Porque o padrão mínimo de qualidade aqui é menor?

Isso me lembrou de quando fui trabalhar em uma multinacional alemã que fabrica peças de carro. Sou engenheiro mecânico e pensei, agora minha carreira vai para frente, vou trabalhar com pesquisa e desenvolvimento numa empresa líder do setor. A realidade foi totalmente diferente. Trabalhei com projetos antigos da década de 90, linhas de produção antigas sendo fechadas na Europa e trazidas para o Brasil. Produtos pouco rentáveis e no fim da vida eram trazidos para cá para aproveitar nossa mão de obra barata e também vender esses projetos antigos no mercado brasileiro. Inovação e tecnologia? Só na Europa mesmo, lá eles anunciaram um investimento de 1 bilhão de euros para abrir uma fábrica de microchips.

Como consumidores podemos usar nosso poder de compra para dizer ao mercado que não aceitamos produtos de baixa qualidade, mas aqui no Brasil isso parece funcionar de maneira diferente. Quer o mínimo de qualidade? Pague mais, e sem opções melhores acabamos pagando. Quando as empresas veem que isso funciona todas sobem o preço, loucura não é mesmo? E ainda vão culpar os impostos, sendo que o problema não são somente eles. Quem tem mais dinheiro na conta consegue comprar produtos de tecnologia durante suas viagens ao exterior, quem tem mais dinheiro paga menos e leva mais.

Por isso fica aí o meu questionamento para nós pobres brasileiros: O nosso dinheiro, e por consequência, nosso tempo e nossa vida valem menos?